sexta-feira, 26 de junho de 2009

Com a palavra, o LP.

Marcos Massolini é de São Caetano do Sul. Jornalista, certa vez teve uma idéia de fazer um livro, um grande diário com as passagens vividas por ele e pelos amigos. Muitos amigos. Muitas histórias.

O ponto forte do livro "A gente era feliz e... sabia!" é a cultura na década de 1980, trazida nos depoimentos que o próprio autor organizou através de uma intensa troca de emails durante quase dois anos.

E, quando falamos de década de 1980, é inevitável falarmos de som: Sunshine, Toca-discos, tape-decks, domingueiras, caixas acústicas e, claro, o vinil.

Com a autorização do autor, fisguei um trecho interessantíssimo do livro: o ítem "Elefante Branco", do capítulo "Som".


Elefante Branco
Marcos Massolini

Com a venda de discos “bombando”, muitos picaretas se aproveitavam da onda e lançavam produtos caça-níqueis. Eu mesmo, tarimbado comprador, caí uma vez numa armadilha do marketing pilantra. Vi na TV um lançamento imperdível, com grandes artistas americanos e ingleses reunidos numa coletânea . Além da seleção de músicas ter me atraído, um aspecto pitoresco e inédito do produto chamava a atenção de cara e era o grande diferencial alardeado pelo comercial: o LP era totalmente branco! Saí correndo pra comprar. Peguei o “Gerty” lotado (era quase Natal), atravessei uns bons quarteirões lotados do centro de São Caetano a pé (nesta época, o centro lotava), adentrei arfando a loja de discos lotada (outra que lotava) e agarrei o último exemplar da prateleira com unhas e dentes, dois segundos antes do bote de um esquimó com cara de assassino. Feliz da vida, fui ouvir o alvo petardo e quase tive um colapso: Stevie Wonder cantava enquanto sua asma assobiava; Marvin Gaye parecia um coiote no cio; Dione Warwick , num inglês sofrenho, ria, entre frases desconexas. Eu, estirado no sofá, só chorava. Primeiro, por ter comprado um disco de cover; segundo, por só ter cover ruim, e por último e o mais lamentável: o disco branco ficava cheio de pó e cá entre nós, era feio para caramba!


Agradecimentos a Marcos Massolini, um amante do vinil e das histórias que acercam o LP.

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