quinta-feira, 13 de maio de 2010

As Rainhas do... Disco - parte I

Bem mais velho que o Rádio, o Disco, ou melhor, seu antecessor, o Fonógrafo, chegou ao Brasil em 1879. A "máquina falante", como o fonógrafo foi batizado na época, havia sido construída dois anos antes pelo mecânico John Kruesi, sob orientação do pesquisador Thomas Alva Edison, em Orange, nos Estados Unidos. Tratava-se basicamente de




(...) um cilindro de couro recoberto por uma folha de estanho, montado sobre 
um eixo horizontal provido de manivela em uma das extremidades, a qual, 
ao ser acionada, permitia à agulha ligada a um diafragma ir riscando 
a superfície do estanho, conforme a vibração provocada pelas ondas sonoras.

( José Ramos Tinhorão, Música popular: do Gramofone ao Rádio e TV )


Em 1888, o fonógrafo de Edison foi aperfeiçoado por outro mecânico, Charles Sumner Tainter, que substituiu os cilindros de couro por cilindros ocos de papelão recobertos por cera. Encaixados num cilindro montado sobre uma haste giratória, eles podiam ser colocados e recolocados facilmente. Um ano depois, o gramofone, como foi batizado o invento de Tainter, iria inspirar a Edison um novo modelo de fonógrafo. Usando os mesmos cilindros de cera removíveis, Edison substituiria o cilindro fixo, que se deslocava no eixo pela manivela, por um diafragma acoplado a esse mesmo eixo. E mais: dois tubos acústicos ligados a ampolas de vidros serviam como fones de ouvido. Esse novo modelo, apresentado na Exposição Universal de Paris em 1889, seria trazido ao Brasil, no mesmo ano, por um amigo de Edison, o Comendador Carlos Monteiro de Sousa. Aliás, foi ele o primeiro a realizar sessões de gravação nas quais registrou as vozes de Dom Pedro ll, da Princesa Isabel, sua filha, do marido desta, o Conde d'Eu, e dos príncipes do Grão-Pará e Dom Augusto, netos de Dom Pedro II. Pouco tempo depois da apresentação oficial do fonógrafo no Brasil começaram a surgir o que Tinhorão chama de camelôs da novidade, pessoas que realizavam "espetáculos" com o fonógrafo pelo país. Um desses camelôs foi o tcheco Frederico Finger. O imigrante, vindo dos Estados Unidos, desembarcou em Belém em 1891, trazendo na bagagem um fonógrafo e uma série de cilindros americanos. Rodou o Norte e Nordeste do país fazendo exibições e, naturalmente, cobrando ingressos, até aportar no Rio de Janeiro, em 1892. Logo, Finger ganharia concorrentes em Porto Alegre, Recife, e mesmo no Rio de Janeiro. Mas, antes que a concorrência o engolisse, Figner cria a Casa Edison, passando a comercializar aparelhos e cilindros, e mais: gravando cilindros com Música Popular Brasileira e estimulando a criação de Clubes de Fonógrafos.






Em 1904, uma nova invenção aposentaria os antigos fonógrafos: o gramofone, criado pelo germano-americano Émile Berliner. Trabalhando com discos de cera, o som era "reproduzido pela ação da agulha metálica ligada a um diafragma de mica", conta José Ramos Tinhorão. Figner, que já havia montado uma rede de revendedores e distribuidores, trouxe a novidade para o Brasil e patenteou o direito de fabricação de chapas. Os discos começaram a ser produzidos em massa, abrindo um campo de trabalho nunca antes experimentado pelos artistas populares. Em poucos anos, a exemplo do que aconteceria com o Rádio, ter um gramofone era um dos sonhos da classe média. Vendidos em prestações, ou mesmo rifados, os gramofones chegavam também às classes menos favorecidas, graças aos botequins, onde eram instalados, ou mesmo nas salas de espera dos cinemas.


Em 1913, Figner cria a Fábrica de Discos Odeon e fatura alto até meados da década seguinte, quando chegam ao Brasil as multinacionais do som, como a Victor Talking Machine Corporation, trazendo primeiro as vitrolas ortofônicas e depois as vitrolas elétricas. A partir daí, ele se transforma num comerciante de discos, artigos musicais e máquinas de escritório, renunciando à sua patente da Odeon, empresa que acaba por estabelecer sua matriz no Brasil. As marcas nacionais já haviam desaparecido quando as americanas, Victor e Columbia, chegaram ao país no começo da década de 1930.

( extraído do livro "As Rainhas do Rádio: símbolos da nascente indústria cultural brasileira", de Maria Luisa Rinaldi Hupfer, Senac Editoras, sob autorização da própria autora )

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